Slut é um termo em inglês que significa “vagabunda”. Slut Walk é um movimento que foi iniciado em Toronto, no Canadá, em maio de 2011, depois que um policial, ao proferir uma palestra sobre segurança num campus universitário, argumentou que as estudantes deveriam evitar se vestir como vagabundas para não se tornarem alvo fácil de estupros.
A partir disso, países como realizaram a Slut Walk, como protesto à culpabilização feminina em casos de estupro. Aqui no Brasil o movimento ganhou o nome de “Marcha das Vadias” e já foi realizado em cidades
é a irreverência associada ao ativismo político. O movimento tem se configurado como importante espaço para a reivindicação de direitos sociais (mulheres, LGBT). As organizadoras e participantes defendem o uso do termo “slut” ou “vadia” como uma provocação ao debate, marcado pela reapropriação do termo.
Agora chegou a vez de Salvador – BA. No dia 2 de julho (dia da independência da Bahia) vai acontecer a Marcha das Vadias. Nesta entrevista, algumas das organizadoras do movimento debatem as principais motivações da marcha.
Operária das Ruínas – Como surgiu a idéia de realizar a Marcha das Vadias em Salvador?
A Marcha é uma atividade que nasceu como instrumento para fazer enfrentamento à opressão contra mulheres a partir do episodio ocorrido em maio de 2011, no Canadá, e se espalhou por todo mundo. No Brasil já vem ocorrendo em diversas capitais. E em Salvador, cidade em que o movimento social de mulheres é historicamente vanguarda na luta pelos direitos, não poderia deixar de lançar suas vozes.
Assim, inicialmente foi mobilizado um evento no facebook da Marcha Daspu com Dendê (agendada para ocorrer na Ladeira da Montanha), que não aconteceu, pois ninguém compareceu. Depois disso, a militante Sista Katia teve a iniciativa de criar o evento e um grupo no facebook para organizar a Marcha das Vadias em Salvador. Chamou uma primeira reunião no Instituto de Geociências da UFBA, na qual compareceram Sista Katia, Sandra Muñoz, Rafaela Moreira, Paula Regina, Luana Peixoto, Leila Grave, quando ficou definida a data da Marcha para 02 de julho de 2011.
Posteriormente, foram realizadas mais duas reuniões na Biblioteca Central dos Barris, quando prosseguimos encaminhando as demandas para a concretização da Marcha e cujas relatorias encontram-se postadas no referido grupo do Facebook, por Rafaela Moreira e Taisa Ferreira, respectivamente. Na segunda 27/06, às 18hs realizaremos a quarta reunião de organização da Marcha das Vadias de Salvador, na Biblioteca Central dos Barris.
Operária das Ruínas – Quais são os principais objetivos da Marcha?
Denunciar a violência sofrida por mulheres, gays, lésbicas, transsexuais, bissexuais, idosas, meninas, crianças, adolescentes etc.
Defender o respeito à liberdade sexual.
Marcar que somos donas do nosso corpo e não objetos sexuais.
Fazer reivindicações por políticas públicas para mulheres.
Exigir políticas públicas que defendam e façam cumprir a Lei Maria da Penha.
Exigir mudanças na legislação quanto aos crimes relacionados ao estupro. Afinal, as mulheres não podem ser apontadas como provocadoras do crime, como muitos defendem e legitimam. Portanto, é preciso conferir visibilidade à questão do estupro sofrido por mulheres do mundo inteiro. Questão essa que se configura como pauta importante do movimento feminista e de mulheres em geral, e que nunca foi tratada de forma séria na sociedade patriarcal e capitalista.
Operária das Ruínas – A Marcha das Vadias (em Salvador) conta com o apoio de instituições políticas, sociais e culturais? O movimento tem caráter institucional ou independente?
As instituições são representadas por mulheres que estão participando do processo de construção da Marcha, como o NEIM/UFBA, LESBIBAHIA, VULVA LA VIDA , WENDOSALVADOR, Movimento Estudantil, , etc.
Mesmo pertencendo a entidades, estamos organizando a Marcha de forma independente, coletiva, democrática e transparente.
Portanto, a Marcha das Vadias (em Salvador) é independente também por estar aberta as outras minorias sociais. Convidamos a participarem da marcha: mulheres, homens, crianças, gays, lésbicas, a sociedade baiana, que é contra todas as formas de violência contra a mulher e está cansada de ver as estatísticas de crime aumentarem e as políticas publicas não darem conta.
Operária das Ruínas – Quais as reivindicações priorizadas pela Marcha das Vadias, levando em conta o contexto soteropolitano, baiano, na defesa dos direitos femininos?
Políticas públicas para mulheres;
Descriminalização e legalização do aborto;
Parto humanizado;
Efetivação da Lei Maria da Penha;
Reestruturação e ampliação da casa-abrigo;
Ampliação do orçamento público para atender às mulheres;
Estado Laico (liberdade de crença religiosa);
Proteção às mulheres carcerárias;
Inclusão do kit homofobia nas escolas;
Educação com recorte de gênero para irmos desconstruindo o machismo.
Estamos reivindicando, principalmente, o direito de decidirmos sobre os nossos corpos e sobre a nossa vida. De termos condições materiais, psicológicas, afetivas de sermos mulheres!
Operária das Ruínas – Questões polêmicas como a união homoafetiva, a descriminalização do aborto e da maconha são contempladas pelo Movimento Marcha das Vadias?
Sim.
Operária das Ruínas – Como as organizadoras do movimento entendem a “inversão de papéis” nos casos de estupro (e outras formas de violência), em que as mulheres, de vitimas, passam a ser taxadas como “provocadoras” das agressões?